REDE SEMENTES PORTAL DA AMAZÔNIA E INSTITUTO OURO VERDE REALIZAM PRIMEIRO ENCONTRO DE MULHERES EM ALTA FLORESTA
Entre os dias 8 e 10 de novembro de 2024, aconteceu no Centro de Formação Boa Nova (Alta Floresta-MT) o primeiro encontro “MULHERES QUE CULTIVAM TERRITÓRIOS, SEMENTES E IDENTIDADES”, através de uma parceria entre Rede Sementes Portal da Amazônia (RSPA) e Instituto Ouro Verde (IOV). A atividade foi realizada com o financiamento do Programa REM/MT e do Programa ARCA (Agricultura Regenerativa para Conservação da Amazônia) – viabilizado através de um acordo de cooperação firmado entre o CIFOR-ICRAF e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
A programação do evento compreendeu um diálogo aprofundado sobre as questões relacionadas à desigualdade de gênero, vulnerabilidade, influências dos territórios na atuação das mulheres e um aprofundamento sobre os impactos das mudanças climáticas na vida das mulheres e nas atividades desenvolvidas por elas. Conforme explica Valquíria Seze (RSPA), o encontro foi construído com objetivo “de ser um momento de troca de experiências e de discussão de vários temas importantes que envolvem o dia a dia das mulheres nos espaços em que estão inseridas”. Complementa ainda que, por serem temáticas pouco discutidas em outros espaços, este foi um momento extremamente importante para ouvir as mulheres e traçar metas e objetivos a serem conquistados a curto e médio prazo.
Débora Fiametti (RSPA), aponta ainda que, este espaço possibilitou que “fossem apontados os desafios e oportunidades visualizadas pelas mesmas, trazendo visibilidade para essas mulheres, como uma forma de fortalecimento das ações por elas desenvolvidas em seus territórios, garantindo o protagonismo do diálogo das mulheres para as mulheres”.
A partir desse objetivo, feito um balizamento nos conceitos gerais de interesse do encontro, o diálogo sobre as mudanças climáticas passou a ser a tônica para os debates. Nesse sentido, Denyse Mello (CIFOR-ICRAF), que conduziu a temática, destacou “o Protagonismo na coleta de sementes, não só para a questão de renda da família, mas para conservação e restauração da floresta”. Complementou que as mulheres identificam as potencialidades das atividades que realizam no território e os efeitos das mudanças climáticas, apontando para “a mudança de período de coleta das sementes, a qualidade germinativa das sementes, muita seca e período chuvoso escasso”, como exemplos.
Denyse destaca ainda que “como é da natureza da mulher, elas têm buscado minimizar esses prejuízos e efeitos das mudanças climáticas. O papel que a mulher cumpre na restauração, o papel que a mulher cumpre em implementar sistemas agroflorestais, fazer viveiros de mudas com essas espécies e também buscar observar o comportamento dessas espécies que elas coletam” são elementos evidenciados durante as atividades e que vão orientar os próximos passos e ações.
A partir desse contexto, Débora explica que no encontro foram definidas metas de curto prazo relacionadas aos desafios apresentados pelas mulheres durante o evento. Metas voltadas para o enfrentamento às mudanças climáticas que vem afetando a rotina de todas, especialmente na coleta de sementes. Ressaltou “a importância de buscar formas de se implementar pomares de sementes como uma estratégia de diminuir os custos na coleta e garantir matrizes”. A realização de intercâmbios entre os grupos que fazem parte da coleta também foi um ponto levantado, com objetivo de trocas de experiências na coleta, beneficiamento e armazenamento de sementes.
Outros pontos também surgiram nas discussões e elencados como desafios para o grupo, como a questão da formalização de parcerias para discussões e Implementação de políticas públicas que reconheçam a coleta de sementes como uma atividade profissional com os devidos direitos, bem como, para os grupos novos de coletoras, o apoio na organização e formalização, capacitações nas boas práticas de coleta, beneficiamento e armazenamento das sementes.
O encontro também contou com a realização de oficinas práticas com as mulheres. Foram ofertadas: Oficina de Culinária com PANCs (Plantas alimentícias não convencionais), conduzida por Aline Nava; Oficina de Macramê, conduzida por Denise Fiametti; Oficina de Pomada Terapêutica, conduzida por Carolina Ruedell; e, Oficina de técnicas básicas de fotografia e uso das redes sociais, conduzida por Mequiel Zacarias Ferreira. As oficinas proporcionaram, além do aprendizado das técnicas, as interações entre as mulheres e grupos dos diferentes municípios.
A Ciranda também foi um instrumento presente nos três dias de evento. Neste espaço, as crianças podem se divertir e aprender mais sobre o tema do encontro de forma lúdica e interativa. A equipe de coordenação pontua que a ciranda é fundamental para a realização de atividades como essa, uma vez que “o objetivo da Ciranda é proporcionar uma participação de qualidade principalmente às mães que estão participando da atividade. A ciranda facilita a presença das mulheres nestes espaços, visto que por serem agricultoras a rede de apoio é menor no campo, onde muitas vezes não tem com quem deixar os filhos.
Considerando estes pontos, Ana Carolina França Bogo (IOV), avalia que “O encontro foi motivador, onde conseguimos nos aproximar e nos fortalecer enquanto rede de mulheres neste território, buscando dar visibilidade para as nossas ações e para as diferentes pautas que nos envolve enquanto mulheres, mães, esposas, agricultoras, coletoras, acampadas, assentadas, assessoras, etc. Com certeza saímos com necessidade de viabilizar mais espaços e encontros como esse, trazendo mais mulheres para se enxergarem como agentes de mudança e de segurança das nossas comunidades e territórios”.
Dê Silva (Via Campesina), que também compôs a organização do Encontro, destaca que realizar esse Encontro foi um acerto, tendo em vista a importância da articulação das redes de mulheres em um território marcado por um processo de colonização movido pelo modelo hegemônico do capital financeiro, o machismo e a mais diversas heranças predatórias desse modelo. Realizar esse encontro, salienta Dê, é “reafirmar o papel das mulheres na história do campesinato no Brasil e no mundo. As muitas mãos de mulheres que constroem a agricultura, que constroem a resistência no campo e no campesinato”.
Assim como Carol, Dê Silva enfatiza a importância da criação desse espaço e a necessidade do fortalecimento das redes existentes e criação de novas redes, “em uma caminhada que será feita por muitos pés, mas também com muitos corações de mulheres que acreditam na construção da nova sociedade, pautada no respeito, pautada no trabalho digno, pautada na vida das mulheres e pautada na construção do bem viver”.
Mequiel Zacarias Ferreira / ASCOM-IOV
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